Acordar para dentro

domingo, 31 de julho de 2016

Eles dizem que eu existo
mas não sabem quem eu sou
só podem ver o que está pronto
e eu: nem tanto, quem sou eu?
falam que sou meu próprio sonho
mas quem sonha? não sei ser
não sei fingir
acordar para dentro
só sei que olhar é um sonho perdido
sou como o sono...
o abismo certo
entre sonhar e fazer sentido.

Eufonias

sábado, 30 de julho de 2016

Afaga um rastro de fogo
Encanta, deixa uma trilha
Espiral, circular, são campos
Um pensamento profundo
Fragrâncias de orquídeas
Gentilmente arrancadas
Eufonias do corpo da mulher...

Mentira

sexta-feira, 29 de julho de 2016

Dizem que a palavra vale prata e, o silêncio, ouro
É mentira. Há palavras e silêncios mais valiosos que o ouro
Assim como há palavras e silêncios que nos desgraçam
O importante é: não deixe que comprem sua palavra com prata
Nem seu silêncio com ouro.

Comuns

quinta-feira, 28 de julho de 2016

Muitas coisas nos separam, mas
Todo ser humano vivencia experiências fundamentalmente iguais.
As coisas que nos são comuns... Já parou para pensar sobre elas?

Também

quarta-feira, 27 de julho de 2016

Água parada apodrece
Amor também.

Verbonovidade

terça-feira, 26 de julho de 2016

Vá à praça.
Caminhe. Pague para ver.
Onde começa este poema?
Nos seus passos.
Não, não tem rima.
Viver é o verbo novidade
Permita-se.

Interpretações...

segunda-feira, 25 de julho de 2016

Estava eu lendo o mito de Hércules contra o leão de Neméia e... Refletindo sobre as relações entre o ser e a sociedade, comecei a viajar nessa ideia: Reduzimos a vida natural circundante à cultura social... No meio disso, nos encontramos e nos perdemos... Nos encontramos porque somos animais semióticos, e nossa organização nos enriquece de possibilidades de significações... Todavia... Por sermos animais mitologizando nossa existência, também nos perdemos de nossa razão fundamental... Existir aqui e agora, pulsando sangue, contemplando estrelas, é mais do que podemos definir, no entanto, todo o nosso maravilhamento por participar do mistério, e também todo o nosso assombro diante do desconhecido, revelam a riqueza de nossa sensibilidade perceptiva: todo o corpo trabalha para manter um sonho que caminha, um sonho sonhado pela natureza do mundo... Isso me faz crer que o universo quer tanto a vivência plena das possibilidades, que pôs-se a caminhar com nossos pés, sem certezas, apenas interpretações...

O sorriso

domingo, 24 de julho de 2016

Lindo é o sorriso espontâneo, que escapa feito o vento, sem previsão, e move o mar, as aves, as árvores, sem a nenhum deles faltar... Sorriso que rende e reanima, que é ponte do denso para o sutil, alento que contorna o tenso para o anil e encontra, cada vez mais bobo e leve, elevadas atmosferas, o sorriso estratosférico, sorriso natureza, regozijo de grandeza planetária que, num diminuto instante, contagia os olhos da gente, alimentando o sagrado fogo da alma!

Real

sábado, 23 de julho de 2016

Sente-se desconfortavelmente. Fique nessa posição até doer seu corpo. Force mais, espere ficar insuportável, resista, acostume-se.
É possível habituar-se à dor. Muitas vezes nem percebemos, mas nos colocamos em desconforto quanto a nossos sentimentos, intenções ou atitudes e nos forçamos contra nossa própria natureza.
O corpo é sábio e nos avisa que há desconforto, da mesma forma, se soubermos ouvir nosso próprio interior, tornamo-nos conscientes de nossos fluxos energéticos e reais necessidades.

Coração da música noturna

sexta-feira, 22 de julho de 2016

Que Lua!
Que divina Lua!
Do hálito fresco, do olhar imantado de luz!
Coração da música noturna.
A lua é líquida dentro de mim
O Luar me percorre! Inebria!
Eriça a natureza na pele da noite...
Beija o meu sangue! Inunda a minha carne!
E perfuma a minha mente
Com o céu universal.

Meu devaneio

quinta-feira, 21 de julho de 2016

Nesta vida, entendi que minha tramontana é o sonho. Coisas simples, distantes, me fascinam. Me sinto um pouco distante também. Não tenho parte com as coisas demasiadamente urbanas... Muito embora esteja mergulhado nelas... Minha alma é coisa alienígena, gosta é de passarinhos livres, de riachos rindo, de ficar ouvindo e vendo o vento passeando a mais calma música nas folhas das árvores... Amo contemplar as coisas, ficar pensando elas...
O mundo artificial me assombra, por vezes. Significados me preocupam. Desde sempre fico encucado com aquilo que ouço falarem da natureza, da humana condição, da vida... Então escrevo, eu quero poder colaborar, transformar pela linguagem, provocar epifanias... Por isso trabalho lapidando minhas palavras por meio da poesia, que é livre e inspira sempre alguém... Minha preocupação nessa vida é ter algo de valor para que leiam ou ouçam de mim, pois o mundo precisa, penso, acima de tudo, da poesia.

Hábito

quarta-feira, 20 de julho de 2016

Hábito. A repetição, a insistência. Literalmente falando, hábito significa vestimenta - peça de roupa (somos estimulados a usar todos os dias). Algo que retomamos com assiduidade.
Caminhar assim; cumprimentar daquele jeito; comer dessa forma; falar novamente sobre aquilo... É um eterno retorno. Criar um hábito é como mecanizar uma ação. O lado 'b' da coisa é que dadas as condições iniciais, começamos a repetir nossos hábitos sem refletir sobre eles. Não é algo que sempre vá acontecer (o automatismo inconsciente), mas é uma constante que só tem fim quando percebemos o piloto automático e tomamos a navegação novamente, com força de vontade.
O hábito tem poder físico. Está no âmbito da ação, e assim sendo, interfere diretamente sobre a matéria. Nossa mente, por exemplo, se exercitada, aumenta seu poder, por exemplo, de concentração. Pense nas possibilidades.
A maior parte dos nossos hábitos nós engolimos vindos de fora. Absorvemos o comportamento alheio (ou que o alheio quer que absorvamos) e repetimos sem questionar. Entretanto podemos cultivar um hábito.
O assunto é deveras interessante, porém não me atrevo a passar de uma breve instigação:
Pare por um minuto e pense nos seus hábitos atuais - em todas as suas manifestAÇÕES. Depois, pare por um minuto e vinte e seis segundos e pense naqueles hábitos que você quer desenvolver...
Refletir sobre os hábitos leva-nos a compreender o poder que eles têm em nossa vida (no corpo, na mente, nas emoções etc).
Direcione a sua atenção conscientemente. Se você não começar a mudança, ela nunca acontecerá. E você sabe que é capaz. Exercite sua força de vontade. Você está vivo agora, e tem somente este momento para fazer o que quer. Não desperdiçe sua existência no piloto automático.

Solve e Coagula

terça-feira, 19 de julho de 2016

Enquanto lentos dias acumulam pousos
A carne solve e coagula os pensamentos
A mente força tensões sobre o corpo
Desenhando um caminho energético
Que condensa pesos fantasmagóricos...
Por isso fecho os olhos e percorro cada célula
Peço a cada parte do meu corpo que relaxe
Sinto apenas meu calor, meu lume
Sirvo-me da fonte do meu pleno ser
Para transcender os anseios que me consomem.

Dignidade

segunda-feira, 18 de julho de 2016

Estou tentando falar com você desde ontem!
Aconteceu algo... Não sei bem como te contar. Talvez eu nem devesse, mas... A verdade é que, fosse comigo, eu gostaria que me avisassem. Enfim... Ontem VI SUA DIGNIDADE ANDANDO COM OUTRA PESSOA. Ela parecia infeliz... Olha... Eu sei que não devia me meter nisso, mas poxa! Como você foi deixar isso acontecer? Como você conseguiu deixar ela ir embora assim, sem tentar, com todo o seu espírito, fazê-la ficar? Dignidade não é coisa que tanto faz! Tem que saber dar valor! Quantos vacilos bobos, quantas gotas até encher o amargo copo da droga que te fez ver um sujo bronze no lugar do ouro? Me perdoe se estou me excedendo... É que via vocês juntos e isso me dava uma alegria indescritível. Você sabia quem era (na verdade, isso nem importava), era capaz de suportar qualquer jornada, tinha confiança no seu próprio coração. Seu "bom dia" tinha poder, tinha presença. Você era livre. Sou seu amigo. Me preocupo contigo. Não gosto de te ver assim! Você já nem sonha bem, hipotecou a própria imaginação, é uma fera escondida e adestrada, deformada pelo poder das aparências! Onde está aquele brio dos seus olhos?
Me liga quando ouvir esse recado... E... Sério... Corre atrás! Não há futuro que não caiba no presente. Não perca o que realmente é importante.

O Amor

domingo, 17 de julho de 2016

Me pegou desprevenido,
Acertou dois
sos
oco
sos
Na minha cara
Que eu nem vi chegando
Rasteira, chute e o desencanto
Foi me prostrando
E fiquei ali
Pensando se não fui eu
Que me bati.

Atitude

sábado, 16 de julho de 2016

Altíssimo esplendor do dia, canto do pássaro solar, pálpebra inevitável de abrir. O sol parece ter mais efeito dentro que fora de mim. Acordei cedo e entediado e todo mundo sabe que tédio é energia sendo espancada pela inércia, coisa perigosa. Então inventei de fazer uma caminhada no parque, para fazer jus a toda forma de existência que acordou para este momento em que estou vivo. Me alonguei.

E lá fui eu, com musicalidade. Desci as ruas farejando o frescor matinal por cada poro do corpo, da alma e da mente, bebendo lucidamente a atmosfera em passos de dança de partículas. Cheguei no parque sorridente e pleno de espírito, em respeito à natureza, e me embrenhei numa trilha mais fechada. Bosques me fazem sentir de forma mitológica as presenças de dentro e as de fora, gosto de caminhar em transe, meditando a jornada. Foi então que o encontrei, sentado à beira do caminho. Um garoto que lia concentradamente não o mundo, mas seu livro. Impliquei com isso. Fui lhe dizer que estava desperdiçando tudo. Ele nem notou que eu estava ali. Desperdicei meu tempo. Decidi continuar com minha própria loucura controlada, todavia assim que virei as costas o garoto disse:

- A terra inteira é um grande girassol ingênuo, um bulbo rodopiando, uma esperançosa flor atravessando a imensidão sob as promessas da luz. Viver é encontrar e se perder das suas paixões.
Assim que terminou de falar, ele sacou uma caneta do bolso e fez anotações. Só então percebi que não era um livro, mas uma espécie de caderno (ou diário). O rapaz, certamente poeta, teve a mesma ideia que eu, mas não podendo caminhar na via láctea, sentou-se em meio às árvores para que a galáxia caminhasse dentro dele.

Manhã incomum, pinceladas de sinais que parecem me dizer um quadro. Voltei para casa fazendo três caminhadas, as minhas e a do poeta e, ao chegar na portaria do prédio, esbarrei com minha vizinha, Linda, que segurava um vaso com um girassol. Ela me sorriu, sorri de volta, sem saber se era sonho meu, dela, da flor ou do poeta do parque...

Acordei entediado. Encucado, pensei mais do que fiz. Chateado por ter sido tudo um sonho, fui vencido pela inércia, sem esperança, sem poesia. Não celebrei o sol, não saí para caminhar... E nada me aconteceu.

Semáforo

sexta-feira, 15 de julho de 2016

O monge mais calmo pediu-me uma moeda
Eu sabia que era um truque
Então perguntei se de ouro ou de pedra
Ele riu e me deu uma palavra
Um poderoso mantra, se bem entendi
"Obrigado", ele dizia
Enquanto levava de mim
Um tesouro menor do que o que deixara.
E esgueirando por entre carros
Sentou-se ao lado de sua esperança
Que o aguardava ao pé do semáforo...

Querer

quinta-feira, 14 de julho de 2016

Controversa
incompletude
complementar
ainda querer
os teus verbos
bem abertos
para os fechar.

Criança

quarta-feira, 13 de julho de 2016

A lição mais importante
Da vida
Depois que a gente cresce
É aprender a ser criança.

Nos dentes

terça-feira, 12 de julho de 2016

Não se engane, a alma não se esconde
Ondula, vai, mas vem, borbulha
Solve e coagula em superfície, bate
E desembrulha o corpo da verdade na praia
Ressuma, mareja, marulha na areia
Das suas palavras-acidentes...
O que quer que exista dentro de você
Vai dar com a língua nos dentes...

Overdose

segunda-feira, 11 de julho de 2016

Fátima Maria ontem estava diferente
era pura poesia caminhando
sorridente pelas ruas
deu bom dia
para as árvores e as casas
gingando ao som da música
da própria alma
e tudo a respondia
tudo ressoava
a voz do mundo falava
em tudo e ela ouvia, Fátima Maria
a louca maltrapilha, a alcoólatra
a mãe, a filha e as escolhas ruins
morreu dançando na rua
delirando nua
uma overdose de amor.

A casa

domingo, 10 de julho de 2016

A casa tem uma música
Gravada nas paredes
A música é a sua vibração
O tom da sua voz, suas palavras
O que emana de você
As coisas ficam impregnadas
Viver é consequência
Causa é direção...

Amanhecer

sábado, 9 de julho de 2016

Eu tenho um amigo que não acredita no poder da poesia. Ele sempre diz que é coisa de gente romântica, que não acrescenta em nada ficar versando... Mas olha como as coisas são engraçadas... Hoje o encontrei por acaso, de mãos dadas com uma metáfora!
E ele sorria feito a lua minguante: escondendo o que faz. Eu fiquei atrás das entrelinhas, controversando o pescoço para observar de longe e, sorrateiro, segui seu raciocínio até que parou diante de uma recaída e cada um foi para um lado. Quem diria... Não o conhecesse bem, diria que estava apaixonado por um verso tatuado: “A vida é sempre noite se você não amanhecer”...

Círculo

sexta-feira, 8 de julho de 2016

Contorno dos astros,
Horizonte ao redor
Ninhos dos animais,
Ninhos nas suas pupilas
O círculo abriga
Todos os mistérios.

Se for

quinta-feira, 7 de julho de 2016

Se for amar,
Ame contente
Ou nem tente.

Dentro

quarta-feira, 6 de julho de 2016

Hoje o dia começou curioso... Entrou um sujeito bem vestido no ônibus. Segurava uma bíblia e começou a esbravejar:

- Deus não é senhor do mundo, mas de si mesmo. Assim ecoa fractal o seu verbo: "eu sou"! Não nascemos para sermos senhores de nada, exceto de nós mesmos!...

Passou os preocupados olhos pelos passageiros, encarando um a um, depois sentou-se em silêncio, para ler.

Ressoar

terça-feira, 5 de julho de 2016

A música do SEU espírito.
Se você não a dançar, você adoece.
Ouça. Dance. Vibre.

(m)Alquimia

segunda-feira, 4 de julho de 2016

O tempo muda o sabor das pessoas
Conheci gente doce, muito doce...
Que azedou-se.

Preço

domingo, 3 de julho de 2016

Muitas vezes, para encontrar uma resposta,
É necessário que esqueçamos a pergunta...

Assim

sábado, 2 de julho de 2016

Não se fazia
O poeta, sozinho
A prosear sentado
Saborear a tarde
A não ser assim:
Poesia? Pois é...
Um bolo de aipim
Uma xícara de café!

Ela

sexta-feira, 1 de julho de 2016

Moça de sonhos distantes
Na alma dela há uma praia à noite
Em que seus passos são constelações
Cintilantes
E descrevem o contorno das águas,
Das ondas e das espumas
Que se desfazem e se refazem
Delicadamente
Ao som do tempo na areia...
Copyright 2016 . Ronan Cardoso